sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Sou tudo, sou nada.

Não sou mais um oceano extenso
Que vagueia em todas as direções
Para lugar nenhum.

Não sou mais que uma estrela do mar
Que se prende ao seu destino.

Não sou mais que uma rocha,
Que vai de encontro às ondas alteradas,
Sem nada sentir.

Sou voz falante
Num mundo que cala!

Sou a tua história mal contada,

No silêncio gritante
Das frias madrugadas…
Sou minuto contraído,

Sou sonho que desperta cedo
Com rosto de menino
De lágrima lavada…

Sou caminho, sou estrada
Sou muitos, sou sozinho
Sou gigante, sou pequenino

Sou barco parado no meio do rio
Sou brasa, sou fogo tremendo de frio

Sou medo encontrado na tua coragem
Sou tempo parado que vai de viagem

Sou o que não sou e gostava de ser
Sou morte na vida que não quer morrer

Sou estrela do Norte sem norte pra si
Sou azar, sou sorte sem sorte de ti

Sou sombra de tudo que corre veloz
Sou eco de mim, sou eco sem voz

Sou barro macio no vácuo moldado
Sou espaço vazio por ti ocupado

Sou água parada que move moínhos
Sou linha traçada com vários destinos

Sou data inventada pra ter de nascer
sou tudo, sou nada, nada sem ser

Sou fumo, sou cinza do nada queimado
Sou rumo perdido, sou ponto marcado

Sou gesto, sou escrita saída do fim
Sou resto de tudo que ainda resta de mim.

domingo, 17 de outubro de 2010

Ela.

Contra a bravia onda sombria
sob um céu de noturno mar
me inspira a coragem vazia
à ela, para sempre buscar.

Eu prossigo, sempre à revelia
dos conselhos que me vem alertar
sobre os males que encontraria
se o caminho, insistisse em trilhar.

Mas nem o manto da noite seria
com suas trevas, capaz de cegar
a mim, que vejo a luz do dia
quando fito, dela, o olhar.

Mais canções minha voz cantaria
ao sorriso, dela, lembrar
e guiado por tal euforia
eu insisto em, com ela, sonhar.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Rebobinar.

Dou o Play e vou embora, sem me arrepender de todos meus erros. Não que eu não tenha consciência; eles causaram dor em mim e também em outros, e às vezes, muitos outros. Mas esses erros não passaram. Eles continuam em mim; não os revivo, em nenhum momento. Os evito, a todo instante.
Cometo erros novos. Aprendo mais. Aprendo denovo, com um erro novo. Pra isso me lembro deles. Por isso eu os tenho, e não eles me têm em suas mãos; se não os tivesse cometido no passado ou no presente, os cometeria mais a frente. Talvez inconsciente, talvez diferente, de repente. E quem sabe afetaria mais pessoas.
Quanto mais o tempo passa, mais escolhas tenho que fazer. Mais rápido, mais rápido, e vejo que tenho menos chances de voltar. E minhas atitudes afetam mais pessoas, de forma mais intensa, profunda e permanente. Ah! Meus erros...
Se eu pudesse voltar no tempo, cometeria todos eles novamente, e talvez alguns novos. Mas com toda a certeza, eu pediria mais desculpas.
Vou vivendo daquele filme...É aquele mesmo! Aquele filme que me fazia sentir bobo, e acreditar que o mundo era mesmo bobo antes de te conhecer. E eu cometeria os mesmo erros, mas os cometeria mais cedo. Eu diria o que era pra ser dito, e tudo seria diferente. Com certeza. Minhas promessas não seriam em vão e, cada olhar e cada toque seria como da primeira vez.
Mas meus pensamentos continuam indo pra frente. Eles não param. Na maioria das vezes eles vão muito a frente, aceleram. Realizam, em pensamento, tudo que meu coração vive rebobinando.
Eu não consigo mais estar em sua presença, cada dia é mais dificil ser quem vai te segurar quando você precisar. Já não tenho mais as esperanças de antes. Não que eu não queira, elas apenas foram acabando.
As faixas (ou tracks) algumas vezes vão passando rápido, e outras vezes demoram uma eternidade, e a cada segundo me sinto mais distante. Algumas coisas fazem mais sentido agora, outras já nem lembro mais o que significam. A solidão me acompanha o tempo todo, e agora já consigo percebê-la totalmente. As coisas ficam mais claras e ao mesmo tempo tão inexplicáveis que já não entendo mais minhas idéias, meus sentimentos, tudo.
Agora tudo se resume em algumas lembranças que consegui trazer. As únicas coisas importantes que trago comigo. Começo agora não as esquecer, mas sim a guardá-las. Sei que não será possível, mas falo isso com um ultimo suspiro de esperança tentando fazer com que essa dor se torne menor, tentando guardar meus sentimentos, que antes eram revelados, apenas para você.
Não consegui comprar aquele presente que prometi, não consegui dizer o que gostaria. Eu fui fraco, e agora me deito, nos dias frios de chuva e converso. Sozinho. Irei sentir falta de tudo.
Irei sentir falta de contar para alguém meus segredos, falta de comentar sobre meu dia, falta de dar risadas, falta da sua presença. Irei chorar, quando olhar para os objetos desarrumados que você deixou, as fotos jogadas pela minha estante, as tuas cartas, quando sentir o cheiro do teu perfume. Quando me lembrar das tuas caretas, das tuas manias, das tuas frases. Da tua cor preferida e dos teus ombros. E então no final do dia, quando somente restar-me a mesma solidão. Tentarei lembrar de você.
O filme vai continuar, e ainda assim esperarei que o tempo faça a mágica que sempre fez. Deixarei as pedras rolarem sem as tocar.
E enfim, darei o Play novamente. Seguirei o meu caminho porque te encontrarei, mais a frente.